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ARTIGOS

Avaliação

A Avaliação como concepção institucional na Faculdade das Américas (FAM)

A avaliação é categorizada em avaliação da aprendizagem e avaliação institucional, e esta, em externa e interna. Certamente, essa separação auxilia na compreensão do objeto e dos fins da avaliação. Entretanto, há que se considerar a hipótese de que essa separação seja de ordem didática apenas e não epistemológica.

Esse artigo apresenta uma reflexão construtiva e não uma norma imperativa. Para essa reflexão, colocam-se algumas questões: qual a concepção epistemológica de avaliação que sustenta as ações nesse campo, no âmbito da IES? Os fundamentos que dão sustentação ao trabalho pedagógico, quando pensados os processos de avaliação, são os mesmo que subsidiam a autoavaliação institucional? Se um dos principais objetivos da autoavaliação é o autoconhecimento, as formas de avaliar a aprendizagem e de avaliar a IES podem ser absolutamente dicotômicas?

A tese a ser defendida, para que comecemos a pensar em respostas plausíveis para esses questionamentos, é a de que a avaliação é um processo que auxilia na concretização da integração, entendida em amplo sentido e na perspectiva da manutenção do foco na atividade fim. Assim, a avaliação assume, preponderantemente, seu papel qualitativo, subsidiado pelos dados quantitativos.

 

DEMO (2005) traz a distinção entre a qualidade formal e a qualidade política da avaliação. A qualidade formal trata dos instrumentos e métodos, como o cuidado nas escolhas e montagem dos instrumentos e o uso da tecnologia, por exemplo. Teoricamente, os meios são neutros, o que lhes dá sentido, melhor ou pior, são os fins de seu uso.

 

A potencialidade humana está contida na dimensão política da avaliação. Essa dimensão refere-se à realidade histórica, ela nos oferece mais questões do que respostas. O autor parte do pressuposto de que o homem é o produtor da qualidade. A dimensão política tem uma perspectiva ideológica, pois trata, sobretudo, da relação do homem com a natureza, por meio do trabalho e da tecnologia, apresentando formas humanas de intervenção.

“Assim, qualidade política somente tem o que é criado pelo homem, na sua história e em sua cultura. A arte de ser, de se desdobrar, de se desenvolver, de criar. Entretanto, isto é a imagem positiva dessa qualidade. Sua conotação ideológica já transluz que pode também ser perversa, porque podemos perseguir fins desumanos. Tal qual acontece na qualidade formal, a política é ambivalente, como todo fenômeno dialético... No lado positivo, porém, qualidade pode ser identificada com o fenômeno participativo substancialmente, que é o cerne da criação política. É a conquista humana básica na dimensão da qualidade.” (DEMO, p.8)

Essa abordagem do tema avaliação conecta-se ao Projeto Pedagógico Institucional da FAM, no que diz respeito, sobremaneira, às concepções epistemológicas que lhe fornecem o substrato. Nessas concepções, observa-se a dimensão política da avaliação. A organização curricular da FAM prevê que o trabalho pedagógico seja desenvolvido segundo o marco conceitual do Ensino para a Compreensão (EpC), que está fundamentado: na pesquisa como parte do ensino, na apresentação de desempenhos de compreensão, que exigem dos alunos a mobilização dos conhecimentos construídos a partir das aulas, desenvolvidos pelos tópicos geradores definidos. A avaliação continuada é fundamental, pois oferece indicadores aos professores e aos alunos sobre o alcance das metas de compreensão traçadas.

Assim, a concepção de avaliação da aprendizagem, adotada pela FAM, propõe tanto o acompanhamento do progresso das aprendizagens dos alunos, como a demonstração de desempenhos elaborados por meio do aprendizado, demandando trabalhos elaborados coletivamente e sínteses escritas individuais. Esses resultados são subsídios ao professor e ao curso para a gestão do conhecimento e do nível de alcance dos objetivos e metas traçados no PPC e no planejamento semestral.

Essa visão sobre o papel da avaliação está presente na proposta da autoavaliação institucional. Dada a especificidade do Projeto Pedagógico da Instituição, de sua base teórica, que demanda esforços coletivos, no sentido de sua plena consecução, a IES tem como diferencial a primazia ao trabalho colaborativo. Dessa forma, além dos colegiados, conselhos e NDE, são promovidos encontros semanais entre coordenadores de curso e coordenação geral. Nessas reuniões são tratados assuntos pertinentes aos programas desenvolvidos pela IES e pelos cursos; ao aprofundamento na compreensão dos processos pedagógicos e de suas bases teóricas; ao fortalecimento das relações profissionais, que implicam decisões coletivas e responsabilidade individual, isto é, cooperação profissional e corresponsabilidade.

De acordo com Nota Técnica INEP/DAES/CONAES Nº 65, de 09/10/2014 
“A autoavaliação, em consonância com o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da IES, deve ser vista como um processo de autoconhecimento conduzido pela Comissão Própria de Avaliação (CPA), mas que envolve todos os atores que atuam na instituição, a fim de analisar as atividades acadêmicas desenvolvidas. É um processo de indução de qualidade da instituição, que deve aproveitar os resultados das avaliações externas e as informações coletadas e organizadas a partir do PDI, transformando-os em conhecimento e possibilitando sua apropriação pelos atores envolvidos. Afinal, as ações de melhoria a serem implementadas pela instituição dependem de sua própria compreensão, de seu autoconhecimento.”

Nessa perspectiva, a autoavaliação institucional será sempre subsidiada pelo coletivo da instituição, com o objetivo de manter o nível de qualidade e de desenvolvimento propostos no PDI, em todos os aspectos abordados por ele. A CPA tem papel fundamental nesse processo e trabalha sempre ancorada nos anseios da coletividade, que estejam no âmbito da manutenção e/ou melhoria: da formação dos seus alunos; das atividades próprias dos cursos; da aquisição, inovação e atualização dos equipamentos; da conservação dos equipamentos e dos prédios; dos serviços gerais oferecidos pela IES. A concepção de avaliação que orienta o trabalho da CPA é de que esta se constitui como um processo contínuo, democrático, de caráter formativo e de compromisso coletivo, por meio do qual é possibilitado o desenvolvimento da autoconsciência institucional na definição de sua missão, seus valores e suas políticas.

Referência
DEMO, Pedro. Teoria e prática da avaliação qualitativa. In: PERSPECTIVAS, Campos dos Goytacazes, v.4, n.7, p. 106-115, janeiro/julho 2005

Liliam Ferreira Manocchi é Coordenadora da CPA da FAM.

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