Transformação digital na Educação: 5 tendências para 2022
Rodrigo Dutra - TutorMundi
Escolas conectadas, ensino híbrido, personalização do aprendizado e novos papéis para o professor: essas são algumas das tendências da transformação digital na educação levantadas na Humus Connect, evento que contou com grandes nomes da área para falar sobre inovação na área.
Realizado pela Humus, consultoria dedicada ao desenvolvimento de profissionais de Instituições de Ensino, o evento trouxe a visão de 31 especialistas sobre como a transformação digital vai impactar a educação nos próximos anos.
Assistimos todas as palestras e trouxemos para você as principais tendências que serão vistas nas salas de aula. Acompanhe-nos nesta viagem ao futuro!
1. Educação 5.0
Para entendermos o que é a Educação 5.0, é necessário voltar um passo. Associado à Quarta Revolução Industrial, o Mundo 4.0 está relacionado à maneira como a tecnologia digital – e seu rápido desenvolvimento – muda a forma como vivemos, nos relacionamos e aprendemos.
Revoluções industriais
A tecnologia transformou totalmente o mercado de trabalho e a forma que preparamos os alunos para ele. No mundo 4.0, o foco era formar pessoas capazes de solucionar problemas, desenvolver o pensamento computacional, além do entendimento de robótica e de programação.
Esses processos de transformação digital na educação precisam ser pensados, principalmente, na construção dos currículos escolares e na formação dos professores. Afinal, são a base do ensino e aprendizagem.
“Na área de currículos, a formação integral, com competências socioemocionais, inglês e linguagens digitais, será uma tendência, bem como os aspectos éticos e estéticos, em que os jovens diversificam seus gostos para além das coisas e migram para outros gostos, em busca de uma vida mais plena.”
Habilidades técnicas, criativas e comportamentais se complementam com o objetivo de desenvolver nos alunos maior autonomia, apoiados por um ensino personalizado. E, nesse aspecto, a tecnologia tem um papel fundamental.
Para isso, os professores precisam partir da premissa que todos são capazes de aprender e podem colaborar com a própria educação.
“Se não o fizermos, nossos alunos estarão condenados a serem manipulados pelas redes sociais, porque elas, com certeza, possuem centenas de dados sobre eles. Isso significa conhecer o indivíduo integralmente, cognitiva e socioeomocionalmente (cognosocioemocional é o termo).”
Roberto Francisco de Souza, Founder & CEO da KUKAC
2. Personalização do Ensino
Estratégias de personalização do ensino utilizam tecnologias educacionais para considerar as características individuais de aprendizagem.
“A educação do futuro imediato será personalizada. Ponto final. Quanto antes a sua instituição de ensino se adequar, melhor”.
Em um currículo personalizado, as coisas não são lineares como no formato tradicional. Os docentes precisam entender que alguns alunos não vão aprender como os outros.
A palavra-chave é escolha. O estudante precisa ter possibilidades, como poder adaptar um projeto ao seu jeito e ter abertura para negociar com o professor formatos mais eficientes.
“Ensinamos há décadas do mesmo jeito, e isso tem, cada vez mais, deixado a Escola atual desinteressante para as novas gerações. Com a tecnologia, nós podemos atuar de forma significativa em uma trilha de conhecimento para cada aluno, gerando conteúdos novos de aprofundamento das áreas em que o aluno mais se interessa e encontrando as lacunas na sua aprendizagem, com a possibilidade de correção ao longo de sua trajetória”.
A velocidade de evolução da humanidade é exponencial, os ciclos de mudança estão cada vez mais rápidos, e a cada novo temos o desaparecimento de empregos, mas também a capacitação e nascimento de novos trabalhos.
Segundo um relatório do World Economic Forum, até 2022 54% dos profissionais precisarão aprender habilidades novas. Essas, fundamentalmente diferentes de 5 anos atrás, devem ser trabalhadas no ensino básico, e elas se beneficiam de um olhar voltado para o indivíduo. São as seguintes:
Para acompanhar as rápidas mudanças, precisamos garantir que o ensino seja o mais efetivo possível. Assim, a personalização da educação se torna mais importante nesse contexto.
A partir disso, Frederico Azevedo comenta a personalização da educação na Escola Concept Ribeirão Preto.
Ele apresenta algumas características que precisam estar presentes nas escolas para formar uma comunidade de ensino personalizado, segundo Kallick and Zmuda, 2017. Entre eles:
Educação orientada a dados favorecendo a personalização
A personalização do ensino só é possível através da tecnologia, pois através dela podemos identificar necessidades específicas de aprendizagem de cada aluno.
Com tecnologias educacionais mais evoluídas é possível medir todas as interações feitas pelos alunos. Através dessas interações rastreadas a personalização se torna mais efetiva, além de direcionar uma linguagem ou conteúdo mais adequado para cada perfil de aluno.
“Todo aquele discurso latente que vimos nos eventos dos últimos anos de que aprendemos da mesma forma que nossos pais e avós vai sair do papel. A tecnologia deixará de ser ferramenta de apoio e passará a ser ferramenta necessária à gestão e aprendizagem”.
Nesse cenário, ferramentas que auxiliam a gestão escolar fornecendo evidências das dificuldades e fortalezas de cada pessoa são essenciais para poder oferecer as melhores alternativas de ensino.
3. Aprendizagem híbrida
O ensino híbrido terá maior protagonismo no cenário pós-pandemia. Observa-se uma evolução muito rápida em relação à adoção de tecnologias educacionais por parte dos professores.
Pressionadas pelo distanciamento social, todas as mudanças inovadoras aplicadas pelas escolas até aqui são vistas como passos importantes, e voltar não é uma alternativa.
“Todo o processo de virtualização da educação que vivenciamos, em especial nos últimos meses, não podem sofrer regressão, e temos que evoluir as tecnologias para que nossas escolas tenham condições de ofertar aos alunos uma educação que contemple momentos presenciais e virtuais, e que agreguem valor em sua formação pessoal e profissional, com elementos pedagógicos que se conectem às características dos estudantes e os auxiliem em todo o processo educacional.”
Apesar de não haver uma unanimidade nos estágios de implantação dessas metodologias no país, algumas estratégias se destacam. Ficam em evidência três modelos possíveis: mais presencial, meio a meio ou totalmente online.
A transição para modelos híbridos deve acontecer em três níveis: primeiro, uma utilização individual; depois, aplicado de forma integrada; e, por fim, de maneira sistêmica.
O estágio sistêmico é atingido quando o currículo escolar é desenvolvido a partir dessa metodologia, formando as estruturas da escola e integrando a comunidade de aprendizagem.
“Acredito muito nesta fusão do ensino presencial, remoto e assíncrono. Com esta fusão, penso que as tecnologias que impulsionarem esse modelo serão protagonistas.”
Para as escolas se adaptarem aos novos modelos de ensino híbrido, é preciso repensar as combinações dos ambientes escolares e como ocorre a integração dos alunos nestes espaços: online e presenciais.
O futuro da aprendizagem híbrida está indo para práticas mais integradas e flexíveis: atividades entre pares, baseadas em projetos, além da aprendizagem por tutoria ou mentoria.
O letramento digital dos professores e a cultura das escolas também é algo que precisa ser enfatizado, para que os processos sejam melhores assimilados. A questão não é inserir tecnologia nas escolas, mas sim integrar a comunidade a um modelo de educação democratizada e acessível.
4. Ensino à distância
O ensino à distância abre novas possibilidades para a integração dos currículos escolares. As escolas não estão mais limitadas pelo seu campus físico e podem receber alunos de qualquer lugar.
O que vai ser priorizado pelo aluno é a qualidade do ensino, construído a partir do currículo escolar, os diferenciais de aprendizagem oferecidos pelos professores e a estrutura da escola.
“Será possível estudar qualquer tema (conceito, seja teórico ou prático, generalidade ou especialidade) de forma síncrona e assíncrona, online ou offline, com conteúdos dispostos em múltiplos canais.
Exemplo: Estudar empreendedorismo via podcast da instituição e/ou de outros canais recomendados, plataforma de ensino, aplicativo, online.”
A digitalização emergencial das aulas evidenciou uma crítica recorrente ao modo como o ensino à distância vem sendo aplicado: a adaptação de aulas unicamente expositivas para um modelo online.
“Considerando a necessidade de isolamento social provocado pela pandemia, a quebra de resistência de alunos e professores em relação ao uso da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem, além do baixo custo dessas soluções deverá promover uma escalada da utilização desses recursos catalisando o processo de aprendizagem.”
Novas linguagens podem ser exploradas através da internet, como a junção de entretenimento e educação. Trazer elementos que deixem o processo de aprendizagem mais prazeroso e que façam mais sentido no contexto do aluno é essencial.
Com criatividade, é possível usar formatos que os alunos já conhecem, como podcasts, vídeos e redes sociais, para promover uma experiência educacional mais atrativa.
“Dado o crescimento da demanda de cursos online, novas tecnologias de colaboração, gestão e visualização serão utilizadas para melhorar a experiência online do aluno.”
Apesar de estarmos falando sobre nativos digitais, ou seja, crianças e jovens que nasceram imersos em um mundo virtual, a proficiência tecnológica do estudante não se transfere para o contexto da aprendizagem online.
Cada estudante tem um ritmo de aprendizado diferente, e quando passamos isso para um ambiente que permite mais autonomia, esse ritmo também precisa ser personalizado.
Estrutura de uma aula à distância
Para montar uma aula à distância efetiva as escolas precisam priorizar: infraestrutura, capacitação dos professores, além de repensar no conteúdo dos cursos e experiências de aprendizagem.
Nesse novo paradigma, novos formatos precisam ser considerados para o professor que deseja uma aula online mais efetiva.
“Estamos começando a perceber que podemos consumir conteúdo de qualidade produzido por pessoas de qualquer lugar do mundo, e inclusive nos conectar com essas pessoas. E isso tem um potencial incrível!”
A estrutura de uma aula à distância precisa considerar o tempo para todas as atividades propostas, a fim de manter o engajamento. Com blocos de aula menores, com objetivos específicos, o espaço para distração diminui e o engajamento aumenta.
Modelo de uma aula de 90 minutos, inspirada em treinamento por intervalos
As avaliações dos alunos precisam ser formativas, compostas por avaliações de várias atividades diferentes, não somente de uma prova. Pois, provas não são suficientes para avaliar o desempenho dos alunos, já que dão vantagem para formatos específicos de aprendizagem.
A câmera vira um recurso importante a ser dominado. Devem ser incentivadas a ficar ligadas durante as aulas para melhorar o engajamento, e o professor deve se atentar à gesticulação, pois isso engaja os alunos visualmente.
Novos papéis no ensino à distância: Community Manager
A acolhida dos estudantes que ingressam no EAD é um ponto-chave para que a experiência do aluno seja bem aproveitada. Fabrício Lazilha trouxe o exemplo da PUC-PR na implementação do community manager, um agente que tem como papel gerenciar a comunidade de estudantes e acompanhá-los individualmente, com foco na sua permanência.
O Community manager tem um trabalho misto de tutor e comunicador. Ele cuida da experiência do estudante, gerenciando a comunicação de forma clara e objetiva em todos os canais, resolve problemas e conecta com operações. Ao mesmo tempo, tem o papel de publicar conteúdos semanais de acordo com a grade curricular, coletar depoimentos qualitativos e avaliar a integração dos estudantes com os processos.
5. A transformação digital na educação e o papel do professor
A frase acima, atribuída ao escritor inglês Arthur C. Clarke, pode parecer uma grande brincadeira de mal gosto, mas ela define bem o papel do educador 5.0.
Focado no desenvolvimento de competências sociais e emocionais e na mediação do conhecimento, o professor que não utilizar a tecnologia a seu favor ficará para trás.
Além de coordenar a forma como os processos educacionais acontecem, o contato pessoal também promove a integração do que aprendemos com o que vivenciamos em comunidade.
“É importante deixar claro que a IA não como será uma substituta do professor, mas uma ferramenta ensinada e alimentada pelos professores. Um professor que curar conteúdo para bot estará na crista da onda.”
Nesse contexto, o aluno assume o comando do seu aprendizado, enquanto o educador auxilia na construção do ensino e toma para si o papel de mediador, mentor, orientador para o uso adequado dos recursos tecnológicos.
Com esse novo cenário, as escolas devem pensar na formação constante dos seus professores. Pois, as habilidades necessárias para controlar novas tecnologias educacionais estão em constante mudanças.
“Cursos no modelo nano degrees ou microcertificações on line que possam substituir o modelo formal de certificação serão tendências tecnológicas inovadoras”
A cultura de aprendizagem precisa ser perpetuada não só para os alunos, mas também para a gestão escolar e professores.
Como formar professores para uma educação híbrida?
Lilian Bacich, Professora de curso de extensão em Metodologias Ativas na PUC-COGEAE e co-autora do livro Ensino Híbrido: Personalização e Tecnologia na Educação, argumenta que devemos considerar cinco pontos principais ao pensar a formação de professores para uma educação híbrida. São eles:
1. Espaços
A composição dos espaços (presencial e digital) deve ser abordada, com o objetivo de ajudar a vivenciar os diferentes ambientes e envolver o professor em uma formação que ele perceba o que cabe em cada um deles.
2. Papéis
O professor no centro do processo remete a um modelo que não tem o impacto que se espera na aprendizagem, e na hora de migrar para o online mantivemos a mesma ideia do professor no centro do processo. Precisamos descentralizar o professor no momento da formação, para que o professor entenda que o aluno tem que ter um papel de protagonismo.
3. Conexão
A sala de aula tem expressado a dificuldade de diálogo entre as gerações. Professores e alunos têm dificuldade de se fazer entender e de serem escutados, e se conectar com os estudantes tem a ver com a possibilidade de ampliar a escuta.
4. Personalização
Os dados coletados através de ferramentas de ensino nos dão pistas. Ao fornecer experiências de aprendizagem variadas, o professor atende mais alunos e pode perceber como cada estudante aprende melhor.
5. Escolhas
O docente precisa guiar o aluno para fazer suas próprias escolhas. Se desde pequeno é dada a ele a possibilidade de escolher, o estudante chegará ao final da jornada com mais autonomia para seguir o seu caminho.
Conclusão
O que será visto nas salas de aula a partir de agora deve considerar que a tecnologia digital pode ser uma importante ferramenta de aprendizagem. Não é questão de tirar o celular do estudante ou entregar um tablet, mas entender que o futuro da educação depende do desenvolvimento de novas competências. Ademais, que os modelos tradicionais precisam ser revistos.
O futuro da nova escola deve ser “figital”, ou seja, é o ambiente físico e o digital em comunhão vão ditar os passos a serem seguidos na educação. Em um mundo de máquinas e inteligências artificiais, o papel do professor nunca foi tão importante.
Rodrigo Dutra
Estrategista de marca e especialista de conteúdo, minha missão é encontrar formas de flexibilizar e personalizar o aprendizado para que alunos vão além de seus potenciais.
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