O lado bom do desemprego! Será que existe?
O desemprego assusta o mundo inteiro, no Brasil a taxa de desocupação já ultrapassou 11%. Um momento de muita preocupação para todos os brasileiros.
Não é em razão do momento atual do Brasil, que decidi escrever este pequeno artigo, mas pelos mais de 14 anos trabalhando com Recursos Humanos e tentando aprender da minha forma, a fazer uma leitura de como as coisas “não boas” da vida profissional, podem ao mesmo tempo ser tão importantes e boas, como por exemplo, o desemprego.
Antes de mais nada, deixo claro que não excluo toda e qualquer consequência ruim para uma pessoa que se depara com o desemprego. As angústias, os medos, os longos processos de seleção, a ansiedade pela espera, o NÃO, o futuro incerto, sem contar, consequências físicas, como estresse, depressão e outras doenças impulsionadas por um acúmulo de sentimentos ruins. Mas aqui quero falar do lado bom do desemprego. Sim! Existe lado bom... Aliás, como tudo na vida.
Depois que me tornei um líder de pessoas, tive meu primeiro desafio de desligar alguém da minha equipe. Esta situação ocorreu há aproximadamente sete anos. Eu me preparei como nunca, tinha no meu caderno uma lista de todas as conversas de feedback que havia tido com esta pessoa, nossos acordos e datas não cumpridas, os projetos que não foram entregues, os feedbacks dos clientes internos etc. Na outra folha do mesmo caderno, tinha as anotações sobre a carreira desta pessoa, sua estrutura familiar, quais seriam suas opções para manter a família, já que ela era a mantenedora da casa. Demorei um pouco para tomar a decisão, mas depois de muito tempo tive a certeza que havia cumprido meu papel de gestor, ficou claro que era a melhor coisa a fazer. Bom, e assim foi:
Me reuni com a Ana (nome fictício) em uma sala reservada:
(Eu) Olá, Ana, tudo bem?
(Ana) Olá, Daniel, estou bem sim!
(Eu) Bom, o motivo da nossa reunião é para falarmos de você.
(Ana) Eu já imaginava.
(Eu) Ana, temos conversado ao longo dos últimos meses, penso que você está tão consciente quanto eu que seu desempenho não está adequado e por isso (Fui direto ao ponto), tomei a decisão pelo seu desligamento (Fiquei esperando a reação, as perguntas, o choro talvez...).
(Ana) Nossa! Até que você demorou demais para tomar esta decisão. Se eu fosse você, teria feito muito antes.
(Eu) Fico surpreso com sua reação, mas respeito sua opinião. (Por dentro, pensava: Poor Daniel, quanto tempo pensando em tudo e ouvir este comentário, mas se soubesse faria diferente? Certamente não! Estava tranquilo especialmente por tê-la tratado com respeito que qualquer pessoa merece.)
(Ana) Posso ir buscar minhas coisas para ir embora?
(Eu) Fique à vontade. Você decide se quiser passar o dia, se despedir das pessoas. Faça da sua forma. Obrigado por tudo e boa sorte!
(Ana) Deixou a sala.
E assim foi, meu primeiro contato com o desemprego de alguém que eu fui responsável em comunicar. Depois disso, soube que a Ana estava em busca de emprego e as coisas não estavam fáceis. Que havia até cogitado a hipótese de pedir para voltar a trabalhar na minha equipe. Infelizmente não soube mais sobre ela, mas espero que esteja bem, e principalmente feliz. É isso que desejo! Este é um pequeno e simples caso, mas é o ponto de partida para eu elencar alguns dos benefícios, ou seja, o lado bom do Desemprego:
Quando estamos empregados, ficamos mais exigentes e “chatos”. Cobramos mais da empresa, as vezes até com ameaças e barganhas. Tudo isso pela falsa segurança de estabilidade e que somos insubstituíveis, e o desemprego nos mostra que isso tudo é uma ilusão.
Passamos a fazer uma profunda reflexão sobre como nos vemos versus como os outros nos veem e nos avaliam.
Muitas vezes, esta situação nos conduz a novas descobertas. As vezes o caminho se torna outro, como empreender, mudar de profissão, viajar, mudar-se para outro país etc.
Para muitos, é um momento de resgate do valor Humildade, que frequentemente fica esquecido, quando estamos empossados por um título ou cargo, achando que o desemprego nunca irá nos alcançar.
O desemprego também nos ajuda ao reencontro e ao encontro, de amigos verdadeiros e ex-colegas de trabalho que realmente nos admiram e querem nosso bem.
As incertezas também nos fazem agir com mais cautela, passar a planejar mais o futuro agora incerto e se preparar para tudo.
Revemos nossos comportamentos e atitudes, passamos a ter atitudes mais positivas.
Alguns se tornam mais cuidadosos com a saúde, com a família, passam a revisitar os valores que o fazem uma pessoa feliz!
Nos faz entender, de forma clara, que a relação de trabalho é uma via de duas mãos. “Win-Win Situation”. E as vezes o negócio não dá mais certo e temos que deixar o sócio ou ele nos deixa, e isso é saudável.
Descobrimos que Networking se faz e se cultiva todos os dias e não quando estamos precisando de um colega para nos indicar a uma vaga de trabalho.
Percebemos que o salário é importante sim, mas que a satisfação de trabalhar e ser reconhecido muitas vezes supera todas as outras coisas.
Esta lista foi inspirada na experiência de pessoas que eu conheço e de como lidaram com o fantasma do desemprego. São aprendizados importantes, que fizeram delas pessoas melhores e que tomei a liberdade de compartilhar para reflexão. Imagino que a Ana tenha aprendido com o desemprego também e, sem dúvida, se tornado uma pessoa melhor.
Daniel Salvador é Founder & CEO da DC Consulting. Ele foi palestrante no XIV Fórum de Gestão de Pessoas, durante o GEduc 2022!
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