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ARTIGOS

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O coordenador gestor, captação e retenção de alunos e outras histórias!

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Quando falamos de temas que afetam as instituições de ensino superior (IES) nos dias atuais, muitos vêm à tona, tais como captação e retenção de alunos, novas metodologias de ensino-aprendizagem, avaliações dos cursos pelo MEC e pelo ENADE, gestão dos cursos, atribuição de aulas aos docentes, legislação educacional, ensino a distância, 20% não presencial, inadimplência e outros temas relevantes.

Aqui vamos focar nossa discussão em apenas dois desses temas: o coordenador (gestor) e como catalisar captar/reter alunos nos cursos de graduação. Dois temas que causam muito desconforto em diversas IES porque impactam, direta ou indiretamente, nos demais temas citados no primeiro parágrafo.

Antes de mais nada, não quero que pensem que captar/reter alunos de graduação compete somente ao Coordenador de Curso. Não. Captar/reter alunos de graduação, em qualquer IES, é resultado de um trabalho conjunto dos diversos setores acadêmicos, dentre os quais a Coordenação de Curso. Pois, sendo assim, trato aqui da parte que é de incumbência do Coordenador de Curso quanto à captação e manutenção dos alunos no seu curso.

Podemos começar a falar de uma coisa, ligada a gestão dos cursos, que precisa ser fortemente repensada que é a Inovação. Já discuti essa variável em outros textos meus e reforço aqui que inovar não é reinventar a roda, mas inovar não é também oferecer, sempre, o mais do mesmo! Ensino de excelência (alguém pode definir de fato o que é isso na prática?), docentes titulados, aulas práticas em laboratórios (que grande novidade), laboratórios de informática (geralmente defasados), cursos com nota 4 ou 5 no MEC (mais que obrigação) etc. Essa é a mesma “lenga-lenga” em 90% das IES. Logo, para o aluno, tanto faz estudar na IES A, B ou C. Mas tem que ser assim mesmo?

Inovar, na minha modesta visão, é trabalhar para “remodelar crenças”! Sabe aquela, antiga, história que contam que é preciso estudar, conseguir um bom estágio, se formar e conseguir um bom emprego e procura manter-se nele o maior tempo possível? Formar o aluno para o mercado de trabalho. Que mercado de trabalho é esse que conta hoje com mais de 20 milhões de pessoas desempregadas, com ou sem curso superior? Já era!

Alguém já se deu conta que o mercado de trabalho mudou e continuará a mudar drasticamente e cada vez mais rápido? Fala-se isso dentro das salas de aulas? Não!  O discurso predominante ainda é: você vai se formar e arrumar um emprego! Grande mentira: basta ver o grau de empregabilidade dos egressos – a maioria está desempregada ou atuando em ocupações totalmente distintas da qual se formou ou, ainda, está subempregado – não sei o que é pior!

Mas aí vem a pergunta fatal: então não vale a pena fazer um curso superior? Se o objetivo é arrumar um emprego eu diria que, nos moldes atuais, não! Mas mudando de objetivos, fazer um curso superior vale a pena, e muito!

Vamos nos focar no Coordenador Gestor que, por sua vez, vai afetar a captação e a retenção de alunos. Entendo que tal coordenador deva ter, no mínimo, as seguintes características:

  1. Conhecer a legislação educacional e as DCNs do seu curso;

  2. Ter um bom relacionamento com TODOS os setores da IES;

  3. Tomar decisões COLEGIADAS e saber a fundo o REGIMENTO da IES;

  4. Ouvir, SEMPRE, professores e alunos – desenvolver empatia;

  5. Saber PLANEJAR e EXECUTAR;

  6. Conhecer NOVAS METODOLOGIAS de ensino-aprendizagem;

  7. Saber trabalhar/dialogar com a GERAÇÃO DIGITAL;

  8. Ter DOMÍNIO do seu PPC e do seu curso.

Vamos a cada um desses itens.

1 – Conhecer a legislação educacional e as DCNs do seu curso.

Embora possa parecer algo óbvio, infelizmente tem coordenador de curso que ou não conhece de fato a fundo suas DCNs ou não sabe usá-las adequadamente no PPC e na prática da rotina acadêmica.

Quer dois exemplos disso: não saber diferenciar hora-aula de hora relógio (tem coordenador que faz uma “novela” em cima disso e confunde todos os docentes do curso) e inserir disciplinas que não casam com os objetivos e perfil profissional requeridos para o curso; disciplinas que o aluno cursa e não consegue ver a mínima aplicação para sua formação. Neste segundo exemplo falo da oferta de disciplinas em determinado curso que não faz o menor sentido ser cursada pelo aluno; vide exemplo: oferecer Mecânica dos Fluidos para alunos de um curso tecnológico de Gestão da Produção com o mesmo foco que seria dado para alunos de um curso de engenharia! Pois é, já vi esses absurdos por aí!

Além disso deve a Coordenação do Curso, junto com a direção superior da IES, conhecer e trabalhar com a legislação a seu favor. Mas não chegar ao absurdo de manipular a legislação para tentar levar vantagens (desnecessárias) em cima do lado mais fraco: professores e alunos. Tais vantagens (ilusórias) acabam afastando os alunos. Quer um exemplo? Conheço IES que, para minimizar o tempo em sala de aula usa 20% da carga horária não presencial em EaD, oferece aulas apenas de segunda a quinta feira, excede na carga horária das Atividades Complementares (extra sala), embute várias semanas de avaliação na carga horária do curso; acaba sobrando uma quantidade irrisória de trabalho em sala de aula, fato que compromete em muito a qualidade do curso e mina por completo a satisfação do aluno que vê claramente estar pagando um curso presencial e ter o mínimo de aulas. Some-se a isso a redução de carga horária dos docentes.  

2 – Ter um bom relacionamento com TODOS os setores da IES.

Digamos que essa é uma condição “sine qua non” para qualquer gestor acadêmico!

Esse bom relacionamento deve envolver desde funcionários da limpeza até a diretoria ou reitoria da IES.

Na verdade esse bom relacionamento deve ser um reflexo da boa comunicação entre os setores da IES. O bom funcionamento do curso depende dessa sincronia de discurso. Há de haver qualidade e sintonia das informações entre os setores, pois divergências nessa área gera conflitos desnecessários e desgastantes que podem (e devem) ser evitados.

Mas no caso do Coordenador de curso esse bom relacionamento deve consolidar-se com os professores e alunos do curso. Daí a importância de reuniões regulares com esses dois segmentos acadêmicos. Ouvir muito e dar um feedback sempre consistente.

Sintonia com a biblioteca e a secretaria acadêmica. Embora setores distintos, o coordenador tem que ter consciência da relevância do acervo bibliográfico do seu curso, procurando mantê-lo atualizado (daí um relacionamento com a chefe da biblioteca é essencial).

No caso da secretaria acadêmica, saber a situação da regularidade da matrícula dos alunos é algo importante, assim como o desempenho dos alunos quanto a aproveitamento das disciplinas. Solicitar, mensalmente, um relatório à secretaria academia ajuda a fazer esse acompanhamento e a tomar decisões importantes.

3 – Tomar decisões COLEGIADAS e saber a fundo o REGIMENTO da IES.

Não cabe ao Coordenador do Curso ser o “carregador de piano” do seu curso, ele tem que saber, e o dever, de dividir as responsabilidades das ações tomadas ao longo do ano letivo. Para tanto há de se abusar de reuniões seja com o Colegiado de Curso seja com o Núcleo Docente Estruturante (NDE).

No caso do Colegiado de Curso algumas coisas são de extrema importância e muitas vezes são relevadas, a saber:

a) Composição: nunca o Colegiado de Curso deve ser composto pela totalidade dos professores do curso – nada justifica essa quantidade enorme de docentes em um colegiado. O ideal é que o Colegiado de curso tenha entre quatro a cinco docentes do curso (incluído o próprio coordenador) e um representante discente.

Por falar em representante discente, que em diversos casos é um elemento figurativo que nunca participa das reuniões, há de se dar a devida importância ao aluno representante e exigir a sua participação. O aluno, representante dos demais alunos do curso, ao participar e comunicar aos demais colegas sobre as discussões e decisões tomadas nas reuniões de Colegiado, deve ser corresponsável pelas decisões colegiadas, considerando, é claro, sua posição de aluno. Mas mesmo assim, trata-se de um representante que deve ser ouvido nas reuniões em assuntos pertinentes aos demais alunos do curso.

b) Periodicidade das reuniões: não é incomum, as reuniões de colegiado de curso ocorrerem, apenas duas vezes por ano: uma no primeiro semestre letivo e a outra no segundo semestre letivo. Isso é muito pouco!

Há de elaborar um calendário de reuniões mensais, para que os membros deste colegiado se programem para poder participar e, além disso, dar ao colegiado um caráter mais dinâmico e participativo em relação as questões do curso. A elaboração da pauta prévia a reunião é de fundamental importância.

No caso do Núcleo Docente Estruturante (NDE), em cuja composição não há a participação de discente, tal qual no colegiado de curso, as reuniões não devem ser apenas pró-forma, para atender apenas ao Regimento. As reuniões devem ter também um calendário semestral ou anual, com a pauta definida previamente e lembrar que o NDE é um colegiado distinto daquele que trata das questões rotineiras do curso (ou seja – o Colegiado de Curso).

4 - Ouvir, SEMPRE, professores e alunos – desenvolver empatia.

Este é um tópico interessante pois, devido ao fato de o Colegiado de Curso não ser composto por todos os professores do curso, há de se realizar, com certa periodicidade definida e agendada, reuniões regulares com professores e alunos do curso; reuniões separadas, é claro.

As opiniões e sugestões de professores e alunos são de extrema importância para o bom andamento de qualquer curso. Aqui o desenvolvimento da empatia, ou seja, a possibilidade de o Coordenador se colocar no lugar dos professores e alunos na hora de ouvir suas reclamações, reivindicações e sugestões ajuda a fazer com que as relações entre esses atores seja a mais transparente e harmoniosa possível.

Ouvir é essencial, mas igualmente essencial é deixar claro aos professores e alunos o que é factível de ser realizado para atender às demandas deles. Recai-se em um pecado mortal, ouvir, prometer realizar e não dar jamais um feedback a eles dentro de um intervalo de tempo razoável.

5 - Saber PLANEJAR e EXECUTAR.

Se estamos tratando de Coordenador Gestor, planejar e executar são habilidades e ações indispensáveis.

Há técnicas simples de se avaliar o curso fazendo uma pequena e simplificada análise SWOT, de Forças, Fraquezas, Ameaças e Oportunidades. Com base nesse raio-x, há de se fazer um planejamento para um período de, pelo menos, dois anos, com a especificação de ações detalhadas, responsáveis e prazo (e saber cobrar esses prazos).

Podemos pensar em duas situações a se planejar: (i) se o curso ainda não foi reconhecido e há ações necessárias para tornar o curso apto dentro das exigências do MEC e; (ii) se o curso já passou por reconhecimento e já tenha formado, pelo menos, uma turma, há de se planejar o futuro do curso em termos de avaliações externas tais como o ENADE.

Referente ao item (i) há de se observar se toda a infraestrutura mínima necessária para o pleno funcionamento do curso está instalada ou se faltam alguns laboratórios e/ou equipamentos. Avaliar a situação do quadro docente, dos regulamentos institucionais do curso (regulamentos de TCC, de estágio supervisionado, das Atividades Complementares etc).

Por sua vez, no caso (ii), como garantir um desempenho, no mínimo, de nota 3 para o ENADE? Há necessidade de programa de nivelamento, de reforço de conteúdos específicos e gerais, da adoção de novas metodologias de ensino-aprendizagem-avaliação?

6 - Conhecer NOVAS METODOLOGIAS de ensino-aprendizagem.

Não vou detalhar aqui as novas metodologias de ensino-aprendizagem que hoje vem sendo adotadas por diversos curso de graduação, visando melhorar tanto o aprendizado do aluno como seu interesse pelas aulas. Essas metodologias, ditas metodologias ativas de aprendizagem, devem ser avaliadas quanto a sua viabilidade e prazo de implantação nos diversos cursos da IES. Cabe ao Coordenador, juntamente com seu NDE, discutir previamente os modelos existentes e, dentro do Planejamento discutido aqui no tópico anterior, criar um cronograma de implementação.

A introdução de uma nova metodologia de ensino-aprendizagem passa por uma série de etapas, dentre as quais podemos destacar: escolher junto com o NDE a metodologia mais adequada ao seu curso, buscar fazer uma ampla capacitação dos docentes, revisar completamente o PPC, iniciar com um teste piloto em algumas disciplinas e ir expandindo a sua implementação dentro de um cronograma pré-estabelecido.

É obvio que será necessário fazer correções de rumo ao longo da sua implementação, são ajustes naturais até que, de fato, a nova metodologia esteja funcionando de forma plena e gerando resultados.

As novas metodologias de ensino passam por mudanças de paradigmas que levaram aos métodos da sala invertida, do aprendizado “maker”, uso de técnicas aplicando jogos (gamificação), além do já consolidado e tradicional PBL (aprendizagem baseada em problemas). Assim, alterar a forma de utilizar metodologias de ensino já longamente empregada pela IES passa por uma mudança de comportamento de todos, ou seja, há a necessidade de se criar e se adaptar a uma nova cultura acadêmica.

7 - Saber trabalhar/dialogar com a GERAÇÃO DIGITAL.

Não é incomum professores reclamarem que tem a maior dificuldade em manter a atenção dos alunos ao longo da sua aula. Há casos e casos onde, reter a atenção do aluno durante duas aulas ou quatro aulas seguidas de uma mesma disciplina é um enorme desafio atualmente. O que fazer para tornar a aula atrativa?

Há diversas respostas para essa questão, mas a que eu considero a mais contundente é o DIÁLOGO! Isso mesmo, saber dialogar com essa nova geração – geração digital – que apresenta uma enorme dificuldade em concentrar-se em um determinado assunto por tempo prolongado – daí a aula tradicional ser chata para esses alunos! E de fato é!

A princípio pode parecer algo muito simples – dialogar. Mas é isso mesmo, dialogar envolve a capacidade de ouvir o aluno e trabalhar com ele na busca da melhor forma para seu aprendizado. Não se trata de individualizar a aula em si, mas estar em sintonia com a maior parte da sala de aula. Digo a maior parte porque vale aqui a máxima: é impossível agradar a 100% das pessoas, no caso os alunos; mas é possível sim estar em sintonia com a maioria da sala (algo em torno de 80% ou mais – o que é um ganho substancial). 

Tentar fugir daquela estrutura de cadeiras enfileiradas e passar para um layout de sala mais aberto, participativo, com trabalhos em grupos/equipes visando fazer com que os alunos discutam entre si e com você professor as soluções dos problemas propostos; não deixando de lado, é claro uma parcela do tempo para exposição teórica dos conteúdos, mas dentro de uma filosofia de discussão e participação dos alunos. Sempre os instigando a participar. Esse é o diálogo!

8 - Ter domínio do seu PPC e do seu curso.

Finalmente o último dos tópicos aqui destacados; tão indispensável como os demais tópicos aqui discutidos, ter domínio do seu PPC – Projeto Pedagógico do Curso é uma condição indispensável ao coordenador de curso. Esse domínio envolve o conhecimento pleno do texto deste documento institucional e, por consequência, saber acompanhar e avaliar seu funcionamento na rotina do curso.

O PPC é um roteiro daquilo que o curso se propõe a ser. É um instrumento fundamental para avaliar se o que foi previsto nas suas diretrizes está sendo de fato cumprido. Por exemplo, o perfil do egresso previsto no PPC está sendo realmente alcançado? A matriz curricular está adequada para capacitar o aluno a enfrentar as situações extra muro da faculdade? Os convênios previstos no PPC para proporcionar aos alunos oportunidades de estágios, práticas e atividade complementares estão sendo cumpridos?

Conhecer seu curso é estar “afinado” e informado sobre tudo que acontece na rotina diária do mesmo. Quais são as demandas de alunos e professores, quais são as crises que podem estar afetando o curso, quais são as ameaças e oportunidades que o curso deve ficar atento para sua sobrevivência e crescimento.

Estes oito tópicos não encerram todas as características, habilidades e competências afetas a um coordenador de curso, existem outras com certeza, mas estas aqui discutidas, brevemente, formam um alicerce fundamental para uma ótima gestão que venha garantir, ou pelo menos dar uma boa dose de confiança, na captação e retenção de alunos.

Samuel José Casarin - Consultor Educacional

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