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Inovação/Tecnologia

Atletas do conhecimento

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A origem do termo ‘atleta’ provém do grego ‘athletes’ e, por sua vez, de ‘aethos’, que significa esforço. Para sermos quem somos e como somos investimos energia e fazemos esforços para desenvolver competências e habilidades, respectivamente, capacidade de fazer escolhas e tomar decisões e demonstrar efetividade de ação interventiva, conceitos estudados e bem situados na ciência da Engenharia e Gestão do Conhecimento.

 

Elegante definição para Conhecimento Tácito, tão apregoado há décadas como eixo propulsor dos processos de ensino e aprendizagem, formais e informais, dedicados ao desenvolvimento humano. Conhecimento de fundamental importância e de um valor inestimável, porém intransferível! Sim, não há como transferir competências e habilidades entre humanos e aqui reside o maior desafio prático da educação.

Enquanto o Conhecimento Tácito apresenta esta característica complexa e específica, o Conhecimento Explícito, isto é, tudo que pode ser produzido, registrado, veiculado e armazenado em mídia, é facilmente acessível e socializável. Texto, imagem, audiovisual, simulador, infográfico, hipermídia, um discurso oral, um mapa na lousa, uma ‘meme’, são objetos ligados à mídia que, por definição, está associada à informação. Praticamente todo meio de comunicação, do analógico ao cyberfísico, proporciona a veiculação de Conhecimento Explícito.

Conhecimentos tácito e explícito são, de fato, inseparáveis, mas se faz esta distinção para situá-los conceitualmente com maior rigor e precisão e aqui se apresenta uma questão: como as pessoas aprendem e produzem conhecimento? Esta questão não tem resposta simples, pois suas variáveis são de natureza sociocultural temporal. Há, no entanto, estudos que apontam para quatro invariantes presentes nesses processos (CARVALHO NETO, 2018).

 

As invariantes citadas revelam que nos processos de gestão da produção de conhecimento por humanos, os aspectos que situam emoção e cognição de forma contextualizada são responsáveis pela apreensão da atenção e engajamento em uma ação. A segunda invariante se refere ao fato de que humanos produzem conhecimento ao se envolverem ativamente na resolução de um problema (BACHELARD, 2006). O terceiro vetor diz respeito à interatividade. Numa perspectiva epistemológica, a interação sujeito-objeto estrutura os processos construcionistas. Por fim, a socialização cumpre papel de fundamental importância durante os processos de aprendizagem, no diálogo com

 

Quando se tem por objetivo que estudantes desenvolvam suas competências e habilidades (conhecimento tácito) e sejam capazes de produzir conhecimento teórico (explícito), é imprescindível que estejam presentes as quatro invariantes citadas, já que as evidências apontam para uma estrutura humana ontológica. É neste contexto de fundo que atualmente vêm se popularizando as chamadas ‘metodologias ativas’, tais como o PLL - Project-Led Learning (aprendizagem conduzida por projeto), PBL – Problem Based Learning (aprendizagem baseada em problemas), FC – Flipped Classroom (sala de aula invertida) e outras.

Por que essas metodologias são relevantes? Justamente porque elas incluem contextos problematizadores em que os estudantes devem agir ativamente na resolução dos mesmos. Enquanto tais processos vão acontecendo, os atores têm de fazer escolhas, tomar decisões, atuar sobre o meio, obter, organizar e registrar informações, portanto estarão construindo suas próprias competências, habilidades e conhecimento teórico. Este quadro faz com que nos deparemos com os conceitos de Conhecimento Tácito e Explicito, situados na Engenharia e Gestão do Conhecimento.

Um dos riscos na utilização não fundamentada das metodologias ativas é não se conseguir alcançar os objetivos maiores que se pretende. Além disso, experiências malsucedidas, ainda que possam promover algum conhecimento em geral, no contexto escolar e educacional docente podem significar frustação e abandono da iniciativa, o que é o pior cenário. Por esse e outros aspectos é de fundamental importância que se possa sustentar as decisões metodológicas sobre fundamentos de base científica.

O modelo teórico-tecnológico da Educação 4.0 tem por objetivo principal justamente contribuir com este lastro de referência, não só fundamentando os processos educacionais e os modelos de ensino-aprendizagem e suas metodologias, mas também oferecendo instrumentos para a gestão institucional, como a possibilidade de concepção e execução de um Programa Estratégico de Gestão da Inovação na Escola (IFCE/PEGI, 2019).

Como vemos, um atleta no âmbito pessoal precisa se esforçar para alcançar o seu desenvolvimento, assim como as escolas devem primar pela elevação dos padrões de conhecimento de suas equipes internas e com isso serem capazes de se posicionar em cenários desafiadores, voláteis e competitivos como os que se apresentam na atualidade.

Atuamos na arena do conhecimento, somos atletas únicos.

Referências

CARVALHO NETO, C. Z. Educação 4.0: princípios e práticas de inovação em gestão e docência. Laborciencia editora: São Paulo, 2019 (2ª ed.).

BACHELARD, Gaston.  A epistemologia. Tradução de Fátima Lourenço Godinho e Mário Carmino Oliveira. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2006.  

CARVALHO NETO, C. Z. Programa Estratégico de Gestão da Inovação (PEGI). Instituto para a formação Continuada em Educação (IFCE): São Paulo, 2018.

 

Prof. Dr. Cassiano Zeferino é Presidente do Instituto Galileo Galilei e será palestrante no GEduc 2019, durante o VIII Fórum de Inovação Acadêmica. Conheça a programação e faça sua inscrição pelo site www.geduc2019.com.br

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