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ARTIGOS

Gestão Educacional

A pesquisa do ensino básico ao ensino superior

“Se a criança é levada a buscar seu material, a fazer sua elaboração,

a se expressar argumentando, a buscar fundamentar o que diz, a fazer uma crítica ao que vê e lê, ela vai amadurecendo como

sujeito capaz de uma proposta própria.”

Pedro Demo

A pesquisa, enquanto objeto de estudo, possui uma terminologia ampla, isto é, como ciência se ramifica para várias categorias; por isso, usada erroneamente dentro da área educacional. É comum chamar de “pesquisa” atividades realizadas pelo educando que consiste basicamente em o ato de consultar e recortar trechos de textos de site da Internet mecanicamente para obtenção de informação.

Por outro lado, encontram-se as seguintes possibilidades de pesquisa, dentro da área escolar, que com certeza serão utilizadas em pesquisas de níveis posteriores. São elas: bibliográfica – realizada por meio de textos já elaborados; comparativa – análise, descrição e comparação entre dois ou mais objetos de estudo; de campo ou estudo do meio – feita por observação direta no próprio local; de mercado – obtenção de observações sobre a venda de um produto, os hábitos dos consumidores ou a aceitação de um produto novo; de opinião – investigação do gosto da preferência das pessoas; descritiva – descrição passo a passo da transformação do objeto de estudo; experimental – coleta de informações em um experimento e descrição periódica; concomitantemente, localização de fontes que expliquem sobre o estudo; histórica – busca de informações do passado.

Portanto, a palavra pesquisa pode apresentar uma variedade de atividades e, por isso, várias conotações. Diante disso, pode ser entendida como uma simples busca de informação ou ser apresentada com sofisticação metodológica.

Para enriquecer esta atividade “pesquisa” e sua importância na trajetória do aprendizado do educando, Demo (1996b) afirma que uma é introdutória a outra e segue o rigor científico, utilizado somente pelos acadêmicos.

No Ensino Básico podemos afirmar que nesta faixa etária é o momento considerado ideal para introduzir a criança nessa atividade, pois neste período é que surgem os impulsos exploratórios, por meio dos quais ela desenvolve suas vivências e conhecimentos que continuarão em toda a sua vida intelectual.

O iniciar no Ensino Básico, deve-se ao fato de que a criança, nessa fase escolar, tem curiosidades e o questionamento como sua característica do seu desenvolvimento exploratório de conhecimento do mundo.      

               

Considerando que a criança esboça atitudes embrionariamente científicas, deve-se, então, proporcionar oportunidades nessa faixa de etária, para desenvolver as ações de: observar; formar noções de espaço e tempo; formar relações em torno da ideia de causalidade; descrever; classificar; ordenar ideias; experimentar sensações; resolver problemas e, concluir de acordo com a sua faixa etária.

É também, neste período que a criança começa a construir e reconstruir seus próprios conceitos, acerca do mundo e de si mesma.

A partir de explorações do meio em que vive, passa a adquirir várias experiências tanto culturais quanto sociais.

Diante disso, a criança passa a formular conceitos e buscar respostas, para compreender o mundo e desenvolver seu próprio pensamento intelectual.

Já no Ensino Fundamental I, há autores que defendem ser este período mais apropriado para incentivar a pesquisa e desenvolver a curiosidade com o intuito de formar conhecimento. Demo (1996a) e Carvalho (1997) acreditam que, se motivada essa prática, o aluno obterá nova postura intelectual. Ambos os autores apresentam que neste período os educandos sentem-se mais envolvidos, assimilam com mais facilidade o que é pesquisar.

Hernandez (1998, p. 19) propõe currículos “por tema e problema”; o conhecimento não se dá sem informação articulada. Logo, observa-se que, ao estimularmos o aluno também nesta faixa etária, no cotidiano das práticas da pesquisa, poderá favorecer na sua construção do conhecimento, mediante o incentivo a algumas propostas educacionais como: aprender a dialogar com o autor; observar e buscar soluções para problemas do cotidiano; construir autonomia; estimular a criatividade; organizar ideias; obter atitudes reflexivas; obter hábitos corretos de estudo; promover-se intelectualmente e gostar de leitura/pesquisa.

Em relação aos aspectos citados acima, se bem trabalhadas na escola, pelo professor com parceria do bibliotecário, essas ações e habilidades estarão presentes como pressupostos a serem atingidos pelo educando tanto no Ensino Fundamental I e II quanto no Ensino Médio.

Já no Ensino Superior, Rocha & Carvalho (1996) e Carvalho (1997) apontam os problemas encontrados pela falta de experiências dos universitários, em relação à pesquisa bibliográfica realizada desde o período escolar, em que professores e pais falharam na sua orientação.

Não basta orientar o educando com todos os passos para a elaboração do trabalho a ser elaborado; mas sim, deve apresentar as relações e associações que o tema sugere, para que ele próprio crie o seu caminho para a construção da atividade.

Portanto, no Ensino Fundamental, o professor tem o papel de oferecer recursos para que o aluno construa seu conhecimento participando, reinventando, e não repetindo fórmulas prontas.

Assim, o educando ao chegar à universidade, não apresentará as dificuldades que os professores de Ensino Superior se queixam, em relação à apresentação dos trabalhos acadêmicos e nas monografias dos pós-graduados.

Cabe ao aluno ser o sujeito ativo da produção do conhecimento, pois:             

Não há conhecimento cientifico sem pesquisa (...) desde o experimento de laboratório até o [tratamento escrito}, dissertativo ou monográfico realizado sobre requisitos da metodologia científica. Cabe ao aluno ser ativo e aos responsáveis pela disciplina – os professores – cabe introduzi-los nas atividades de pesquisas gradualmente e na mesma progressão em que se realiza o programa

 (Salomon, 2000, p. 12)  

 

Carvalho (1997) alerta também sobre o número insuficiente de pesquisadores e cientistas que existe em nosso país: pela presença dos mesmos autores nos trabalhos científicos; baixa produção científica; falta de leitor/pesquisador. Além disso, acrescenta que os profissionais que estão sendo encaminhados para o mercado de trabalho estão despreparados e cita como origem dessa carência a formação deficiente, inclusive a própria pesquisa escolar realizada na trajetória escolar, originando assim, desinteresse e dificuldade em aprender esta atividade.

Portanto, as ações e habilidades, se forem orientadas para o educando adequadamente desde o Ensino de Básico, tornarão a transição para a idade acadêmica suave e gradual, evitando, assim, desmotivação pelos estudos – pesquisa.

Importante ressaltar também que, ao iniciar a pesquisa desde o Ensino de Básico, os educandos serão inseridos a leitura informal e formal e através deste procedimento aprenderão a selecionar o que seja relevante e, assim se tornarão cidadãos conscientes para contribuir para uma sociedade mais justa.

Por outro lado, o educando precisa aprender a lidar com a informação, pois esta habilidade favorecerá, a saber: observar, criar, pensar criticamente para solucionar problema e, planejar e produzir, atendendo assim, às exigências do mercado de trabalho.

Maria Aparecida da Costa Bezerra é Bibliotecária Escolar e Universitária.

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