ARTIGOS
Avaliação
Os descompassos entre projeto pedagógico e avaliação formativa no
ensino superior
Muito se tenta implementar a avaliação formativa no contexto do processo ensino aprendizagem. Porém, ao se analisar grande parte dos métodos avaliativos no ensino superior, percebe-se que a natureza metodológica, para um alinhamento desta categoria, revela-se incipiente, ou então, só transita por aspectos técnicos formais. A avaliação formativa é mais do que uma estrutura; a dificuldade em implementá-la reside, justamente, em se elaborar uma avaliação contextual e problematizadora, articulada e inserida no processo ensino aprendizagem.
Uma postura desta natureza exige um olhar mais amplo acerca da avaliação e, necessariamente, deve perpassar a construção do Projeto Pedagógico de Curso e as escolhas deste acerca das metodologias a se adotar no desenvolvimento da aprendizagem. Modelar a avaliação por estruturas só formais apoia-se em uma visão simplista; modelar um processo avaliativo de natureza processual e formativo é tarefa complexa. A dificuldade em se adotar este perfil avaliativo deve-se, na maioria das vezes, à ausência de articulação com o processo ensino aprendizagem. Na verdade, a avaliação formativa revela, exatamente, o resultado de como este processo foi conduzido. Tal concepção de avaliação insere-se na prática pedagógica e não há, portanto, como se dissociar do conceito de “formativa”. Por outro lado, um processo ensino aprendizagem, em que o aluno é passivo, simples ouvinte e repetidor de modelos, impossibilita a adoção de uma avaliação desta natureza. Este perfil de avaliação deve ter como premissa um currículo orientado por uma matriz de referência mínima de formação, alicerçada nas Diretrizes Curriculares Nacionais, o que, por sua vez, pressupõe o alinhamento entre competências e perfil de egresso. Neste sentido, é necessário refletir como esta matriz articula seus eixos, de forma interdisciplinar, e como estes organizam os saberes na construção do currículo. Assim posto, a efetivação de avaliação formativa exige novo paradigma para o desenvolvimento da proposta pedagógica do curso, que, por sua vez, exige a construção de um Projeto Pedagógico de Curso, alicerçado na concepção de aquisição de competências. Vislumbra-se, assim, que a avaliação é muito mais do que “copiar” um modelo formal adotado pelo ENADE - Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, como garantia de bom desempenho do curso neste teste. Mais do que uma estrutura, vale compreender como se desenvolve a avaliação no cotidiano da aprendizagem, com a adoção de metodologias que, de fato, sejam ativas, por ser esta condição essencial para se mensurar a aquisição de competências.
Antes de qualquer ação voltada à implantação da avaliação formativa, é necessário refletir acerca das diretrizes metodológicas do PPC, a fim de dar subsídios à aquisição de competências. Estas, com certeza, devem nortear o planejamento do processo ensino aprendizagem. Aí se depara com outro problema: os programas de ensino raramente são construídos com esta concepção. Pouco ou nada se verifica de articulação entre este documento norteador da aprendizagem e as diretrizes do PPC, a não ser repetir a ementa e a bibliografia. Os programas de ensino, em sua maioria, tem a função de elencar conteúdos a serem ministrados, não contemplando metodologias que, de fato, levem à aquisição de competências. Sem entender como este processo se organiza, em uma aprendizagem ativa, não há espaço para que se implemente a avaliação formativa.
Assim posto, a implementação da avaliação formativa em uma Instituição de Ensino Superior exige um conjunto de posturas, que tem como premissa a consolidação de uma cultura institucional e do suporte da gestão acadêmica, a fim de acompanhar o processo construtivo da prática pedagógica, assim como investir em capacitações destinadas ao corpo social docente. No entanto, não basta investir em treinamentos que só demonstram modelos de metodologias ativas prontos, nem tampouco em modelos de avaliação, pois estes são processos estanques, quando desvinculados do PPC. É necessário compreender, portanto, como se efetua a construção de um Projeto Pedagógico de Curso, que se fundamenta na concepção de aquisição de competências, posto que esta visão, necessariamente, envolverá métodos participativos de aprendizagem e a avaliação assume o caráter de formativa. Como consequência, o perfil da avaliação estará em consonância com o ENADE, visto o pressuposto das DCNs, na construção de uma matriz de referência do currículo, norteando a aquisição de competências.
Profª Aparecida do Carmo Frigeri Berchior é Consultora associada da HUMUS, atua em pesquisa na área educacional, em elaboração e análise de currículos, implementação de novas metodologias e avaliação formativa, e será palestrante dos eventos “Workshop 2: Metodologia Ativas e Alfabetização Acadêmica” e “Curso Oficina: Gestão Acadêmica do ENADE”.